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  • Pluralidade, mudança e produção de valor na edição de livros: notas sobre a edificação social da cultura impressa
    Publication . Medeiros, Nuno
    Habitando um campo de intermediação, filtragem e interpretação, o editor assume um papel de legitimação, ordenação e prescrição do mundo pela via tipográfica. O esforço de realização de um livro não se restringe à génese autoral do texto. O livro resulta de um trabalho que implica acrescento simbólico e viabilidade de circulação, sem os quais o objecto se perde enquanto objecto de desejo, factor de aval de conteúdos ou elemento de alarde identitário. A existência de um livro corresponde em grande parte à acção editorial de o instituir socialmente como obra conhecida e reconhecida pelos seus receptores finais. Produtor de valor e materialidade, o editor inscreve o projecto do livro num espaço social colaborativo de trabalho, o campo da edição. Esta apresentação procura sistematizar teoricamente alguns tópicos relativos à articulação do editor com a construção social do campo editorial e a edificação da cultura impressa. Empreender semelhante exploração é abdicar forçosamente de uma visão linear, unidimensional e a-histórica do mundo social e cultural do livro, cuja morfologia e suportes conhecem crescentemente os desafios da desmaterialização.
  • Ação editorial da oposição católica no Portugal dos anos 1960
    Publication . Medeiros, Nuno
    Durante grande parte da vigência do regime autoritário e ditatorial que governou Portugal – país majoritariamente católico – durante quase metade do século XX, e que para efeitos de funcionalidade terminológica se vai designar de Estado Novo, as manifestações de incidência política de desacordo, crítica ou confrontação no seio da Igreja católica portuguesa face às circunstâncias da governação, aos acontecimentos sociais e à relação de proximidade da hierarquia com as estruturas e posicionamento ideológico do poder aparentaram uma estabilidade e unicidade que veio a sofrer uma clara erosão e fragmentação em finais dos anos 1950 e, sobretudo, na década seguinte. Afirme-se sem equívocos que a crítica interna e a assunção de uma visão contestatária sempre se verificou no seio dos católicos portugueses, desde o início do período ditatorial, com denúncias de repressão política e tomadas de posição contra a persistente desigualdade social. Por outro lado, a inserção católica no universo da intervenção social e política verificava-se já no entrelaçamento entre o mundo do operariado, o sindicalismo e a presença organizada de feição assumidamente católica, com raízes no século XIX e com desenvolvimentos já nos anos 1930, 40 e 50, com expressão inclusive no universo operário e sindical. Mas as vozes dissonantes e a sua capacidade de amplificação foram sendo controladas e dissipadas com razoável sucesso público, tanto pelo aparelho de poder eclesial como pelo próprio regime, que atuou fortemente no sentido de retirar autonomia política aos movimentos católicos que pudessem mostrar capacidade de intervenção política e ideologicamente organizada.
  • Inconstância, ausência e paradoxo na política para o livro no Estado Novo português
    Publication . Medeiros, Nuno
    Neste artigo procura-se entender a dúplice forma como o Estado Novo em Portugal lidou com o livro como objecto de acção política. As tentativas de enquadrar o livro como alvo de promoção no sentido de um apoio efectivo e da adopção de medidas correctivas das disfunções do mercado, próprias de uma matriz contemporânea e aberta de sistemas políticos e sociais desenvolvidos, nunca terão verdadeiramente existido durante o período autocrático. Com efeito, desde o seu começo até meados da década de 1950 o regime hesitou entre fórmulas – isoladas – de suporte à edição e à leitura, que não pôde ou não quis consolidar, e opções tendentes a conseguir arregimentar agentes do livro (sobretudo editores e autores) à nunca concretizada literatura oficial do Estado Novo, e que obedecesse aos seus pressupostos. O caminho trilhado parece ter sido, a partir de dado momento, essencialmente o da repressão ao livro, pautando o poder a sua actuação pela ausência de propostas de fomento do mercado editorial e livreiro como as que se verificaram noutros contextos nacionais, inclusive ditatoriais.
  • Edição, Estado e regime: fenomenologias na ditadura portuguesa
    Publication . Medeiros, Nuno
    Nesta comunicação procura-se entender o modo ambíguo, quando não dúplice, como o Estado Novo lidou com o livro enquanto objeto de ação política. As tentativas de enquadrar o livro como alvo de promoção no sentido de um apoio efetivo e da adoção de medidas corretivas das disfunções do mercado, próprias de uma matriz contemporânea e aberta de sistemas políticos e sociais desenvolvidos, nunca existiram verdadeiramente durante o período da ditadura. Com efeito, desde o início o regime autoritário hesitou entre fórmulas – isoladas – de suporte à edição e à leitura, que não pôde ou não quis consolidar, e opções tendentes a conseguir arregimentar agentes do livro (sobretudo editores e autores) à nunca concretizada literatura oficial do Estado Novo. Em finais dos anos 1950, esta ambiguidade cessou, cedendo à via praticamente única da repressão do livro, pautando o poder a sua atuação pela ausência de propostas de fomento do mercado editorial e livreiro como as que se verificaram noutros contextos nacionais, inclusive autocráticas.
  • A edição de livros como formulação do mundo: ideias e casos
    Publication . Medeiros, Nuno
    Este artigo incide sobre o editor de livros e o papel de mediação cultural e social que este exerce na sua actividade prescritiva e mediadora. Procura-se analisar o editor numa dupla vertente: a personagem social nas suas práticas e propósitos de constituição de públicos, mercados, hierarquias e modos de ler e extrair sentido, por um lado, e um conjunto de casos que permitam historicizar as possibilidades e contradições que esta personagem social encontra em contextos particulares, por outro. Na tentativa deste conhecimento convocam-se exemplos de formas contemporâneas de consagração e configuração de públicos leitores em Portugal, através da exploração de colecções editadas em épocas específicas do século XX, de prémios promovidos pelo sector editorial e pelo Estado (durante o regime ditatorial do Estado Novo), e de dois casos de acção editorial a partir do intercâmbio luso-brasileiro (ilustrados pelos projectos editoriais luso-brasileiros de António de Sousa Pinto e de Álvaro Pinto).
  • Acções prescritivas e estratégicas: a edição como espaço social
    Publication . Medeiros, Nuno
    O propósito deste artigo é o de contribuir para um entendimento da edição como espaço social complexo. Este espaço social é constituído por um conjunto de agentes que actuam como construtores activos na esfera das ideias e da cultura escrita através de uma matriz prescritiva e selectiva da sua intervenção no livro, infundindo-lhe uma identidade própria que extravasa o texto na sua estrita acepção autoral. Por outro lado, o campo editorial e os agentes que o habitam integram processos mais vastos, configuradores de uma indústria específica e governados por interesses relacionados com a constituição de mercados de bens culturais, traduzindo-se este segundo aspecto nos pressupostos estratégicos de ressonância mercantil que suportam a actividade de mediação e prescrição de sentidos.
  • Edição de livros e Estado Novo: apostolado cultural, autonomia e autoritarismo
    Publication . Medeiros, Nuno
    Os agentes de prescrição, produção e disseminação do livro surgem como eixos fundamentais no entendimento dos processos de relação com a palavra escrita e publicada em contextos com características históricas particulares. Neste domínio específico, a edição e os editores constituem-se como actores com acção relevante nesses processos de relação com a cultura escrita, cuja dinâmica de articulação com outros actores, espaços e práticas (do poder administrativo ao mercado do livro, das formas de lazer aos hábitos de leitura) permite uma perspectiva sobre o campo cultural mais alargado. Extravasando a esfera cultural e nela radicando como universo reticular de colaborações, conflitos e posições - que assentam em ligações familiares, em lugares de sociabilidade, em redes de relação comercial, em pontos de contacto comuns ou semelhantes com outros actores provenientes de esferas como a literária, a política, a académica -, o campo editorial emerge como domínio social próprio, edificando através da intervenção dos seus agentes uma das mediações mais significativas entre as várias instâncias de produção e apropriação das ideias e dos saberes. Neste âmbito. Este texto pretende explorar algumas das múltiplas formas com que a edição e o editor em Portugal se foram construindo no período do Estado Novo, assumindo o estudo como objectivo essencial a interpretação da vitalidade e complexidade demonstradas pela persona do editor português e pelo sector de actividade em que este se posiciona, caracteriuzados pela existência de aspectos tensionais e contraditórios.
  • O objecto dúctil: a emergência de uma sociologia histórica da edição
    Publication . Medeiros, Nuno
    Localizada, desde o início das diligências explicativas para a apreender, numa matriz temática e disciplinar em que se multiplicam os cruzamentos, a edição de livros foi sendo construída como objeto para cuja captura e definição convergiu e converge sinuosamente um feixe de tradições e perspectivas, tanto na sociologia como na história. Este artigo procura estabelecer um percurso sistematizado que se possa constituir para o leitor interessado como baliza de entendimento de um campo de pesquisa teórica e empírica em construção, que aqui se denomina “sociologia histórica da edição”. Projeto necessariamente parcelar, o propósito apresentado concretiza-se seletivamente, tentando proceder a uma exploração do tema a partir especificamente de duas tradições, a francesa e a anglo-saxônica, com enfoque particular na produção do último meio século. ABSTRACT - Since the first attempts to apprehend and explain the phenomenon, book publishing has been apprehended within a disciplinary and thematic context formed by a constellation of traditions and approaches in both sociology and history with multiple interconnections. This article looks to provide a systematic framework for the reader interested in gaining an understanding of one particular field of theoretical and empirical research, what I call here a historical sociology of publishing. A necessarily incomplete project, the approach is purposefully selective, examining the theme through the exploration of two specific traditions, French and Anglo-Saxon, with a particular focus on the last half century.
  • Notas sobre o mundo social do livro: a construção do editor e da edição
    Publication . Medeiros, Nuno
    Personagem-filtro, intérprete, mas também interventor, prescrevendo, legitimando e ordenando o universo tipográfico, o editor surge como figura múltipla e socialmente investida de atributos e práticas mediadoras na sua relação com o dado textual. Produtor de valor e materialidade, o editor inscreve o projecto do livro num espaço social colaborativo de trabalho, o campo da edição. Este artigo procura sistematizar teoricamente alguns tópicos relativos à articulação do editor com a construção social do campo editorial e a edificação da cultura impressa. Empreender semelhante exploração é abdicar forçosamente de uma visão linear, unidimensional e historicamente asséptica do mundo social e cultural do livro, cuja morfologia e suportes conhecem crescentemente os desafios da desmaterialização.