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  • Pluralidade, mudança e produção de valor na edição de livros: notas sobre a edificação social da cultura impressa
    Publication . Medeiros, Nuno
    Habitando um campo de intermediação, filtragem e interpretação, o editor assume um papel de legitimação, ordenação e prescrição do mundo pela via tipográfica. O esforço de realização de um livro não se restringe à génese autoral do texto. O livro resulta de um trabalho que implica acrescento simbólico e viabilidade de circulação, sem os quais o objecto se perde enquanto objecto de desejo, factor de aval de conteúdos ou elemento de alarde identitário. A existência de um livro corresponde em grande parte à acção editorial de o instituir socialmente como obra conhecida e reconhecida pelos seus receptores finais. Produtor de valor e materialidade, o editor inscreve o projecto do livro num espaço social colaborativo de trabalho, o campo da edição. Esta apresentação procura sistematizar teoricamente alguns tópicos relativos à articulação do editor com a construção social do campo editorial e a edificação da cultura impressa. Empreender semelhante exploração é abdicar forçosamente de uma visão linear, unidimensional e a-histórica do mundo social e cultural do livro, cuja morfologia e suportes conhecem crescentemente os desafios da desmaterialização.
  • Bibliotecas públicas, políticas culturais e leitura pública: prospetiva, tensões e dinâmicas sociais (apresentação)
    Publication . Medeiros, Nuno; Sequeiros, Paula; Pereira, Cláudia Sousa; Dias, Débora
    O lugar da biblioteca, uma das casas dos livros e da leitura, no âmbito das práticas sociais dos agentes que a utilizam e dos agentes que nela corporizam uma confrontação de visões políticas e de modelos profissionais, tem-se materializado em cenários e concretizado em ações onde se detetam tensões entre as tendências de mutação e as vias de permanência. São essas questões, de natureza oposta, e até paradoxal, cuja análise e reflexão se ambicionam com a edição deste dossiê temático “Bibliotecas públicas, políticas culturais e leitura pública”, tematizado no subtítulo “Prospetiva, tensões e dinâmicas sociais”. Esta publicação é também um resultado, revisto e aumentado, de intervenções e discussões apresentadas na segunda edição do congresso internacional com o mesmo título, que decorreu em Lisboa, em setembro de 2019. A Rede de Investigação Bibliotecas, Políticas, Leitura, por sua vez, dinamizou e estruturou esses encontros que se pretendem continuados.
  • Mediação cultural, migração textual e transmediatização: o caso dos cine-romances da editora Romano Torres
    Publication . Medeiros, Nuno
    Este artigo explora as modalidades de produção de livros a partir de padrões de circularidade intertextual e transmediática. A história da edição é fértil em exemplos em que o texto editado em livro se inspira num guião de filme ou em que um filme se baseou num livro previamente publicado, podendo acontecer a sua passagem a programa de rádio, mas também a peça de teatro ou a série televisiva. A migração textual assim desocultada também interroga o próprio significado de originalidade e autoria de um livro, na medida em que esse livro resulte de sucessivos processos de encarnação mediática. Elaborando empiricamente a partir do catálogo e do arquivo da editora portuguesa Romano Torres, a pesquisa demonstrou a existência de vários livros capazes de suscitar perguntas sobre o seu estatuto enquanto objecto, evidenciando como a intervenção no texto pode ser correlativa de avatares que o transformam enquanto produto destinado a ser enquadrado, pensado e consumido de muitas formas, sujeitando-se a um ciclo de reconfiguração e apropriação.
  • Ação editorial da oposição católica no Portugal dos anos 1960
    Publication . Medeiros, Nuno
    Durante grande parte da vigência do regime autoritário e ditatorial que governou Portugal – país majoritariamente católico – durante quase metade do século XX, e que para efeitos de funcionalidade terminológica se vai designar de Estado Novo, as manifestações de incidência política de desacordo, crítica ou confrontação no seio da Igreja católica portuguesa face às circunstâncias da governação, aos acontecimentos sociais e à relação de proximidade da hierarquia com as estruturas e posicionamento ideológico do poder aparentaram uma estabilidade e unicidade que veio a sofrer uma clara erosão e fragmentação em finais dos anos 1950 e, sobretudo, na década seguinte. Afirme-se sem equívocos que a crítica interna e a assunção de uma visão contestatária sempre se verificou no seio dos católicos portugueses, desde o início do período ditatorial, com denúncias de repressão política e tomadas de posição contra a persistente desigualdade social. Por outro lado, a inserção católica no universo da intervenção social e política verificava-se já no entrelaçamento entre o mundo do operariado, o sindicalismo e a presença organizada de feição assumidamente católica, com raízes no século XIX e com desenvolvimentos já nos anos 1930, 40 e 50, com expressão inclusive no universo operário e sindical. Mas as vozes dissonantes e a sua capacidade de amplificação foram sendo controladas e dissipadas com razoável sucesso público, tanto pelo aparelho de poder eclesial como pelo próprio regime, que atuou fortemente no sentido de retirar autonomia política aos movimentos católicos que pudessem mostrar capacidade de intervenção política e ideologicamente organizada.
  • Multiculturalidade, interculturalidade, direitos humanos e violência de género: breves notas para pensar o caso da mutilação genital feminina em Portugal e a sua abordagem
    Publication . Medeiros, Nuno; Denis, Teresa
    A situação de multiculturalidade é hoje uma realidade crescentemente vivida nas sociedades de acolhimento de imigrantes, onde emergem cidades que se constituem como lugares de passagem, de encontro ou mestiçagem cultural, mas também de contraste ou antagonismo social. A interculturalidade aparece como utensílio de favorecimento de vinculação à ideia de outro, promovendo, por um lado, a integração e a defesa do direito à diferença, e, por outro, evitando – ou mesmo denunciando – as estruturas de hegemonização sobre minorias. Mas esta diversidade cultural só pode ser protegida, promovida e aceite desde que não coloque em causa os direitos humanos nem provoque exclusões ou desigualdades. É neste campo, difícil e persistentemente aberto ao debate (e não raro promotor de polarizações), que nos propomos a apresentar um conjunto breve de apontamentos que contribua para pensar a mutilação genital feminina na sua indissolúvel condição de violência sobre a mulher, partindo do exemplo da realidade portuguesa actual.
  • Um ecossistema desfavorável à perpetuação documental - Aniquilação, fragmentação, diluição e opacidade na constituição e patrimonialização dos acervos: o caso dos editores e livreiros
    Publication . Medeiros, Nuno
    Este artigo procura ser uma incursão introdutória num dos problemas mais pre­mentes para quem se propõe estudar e conhecer os processos como a cultura impressa se engendra e como, através dos seus itinerários de circulação e apropriação, ela corresponde e correspondeu a uma das fórmulas de enunciação e circunscrição do mundo na modernidade. Esse problema surge como consequência do reconhecimento da relevância dos acervos docu­mentais e materiais de editores e livreiros para o estudo e análise do processo sócio-histórico de construção da cultura impressa. Aborda-se e explora-se o difícil ecossistema social de pro­dução e sobrevivência desses acervos, num contexto nacional e internacional de actividade e de enquadramento institucional desfavorável à constituição, preservação e patrimonialização dessas fontes fundamentais para o conhecimento da cultura impressa.
  • João Romano Torres e Cia: hermenêutica social de uma editora
    Publication . Medeiros, Nuno
    Em 29 de Outubro de 1885 era publicado o primeiro número d’O Recreio, Publicação Semanal, Litteraria e Charadistica, criado e dirigido por Ignacio Moreira. No número 26, de 9 de Agosto de 1886, na primeira página, sob o título “Expediente”, dá-se conta aos leitores e aos colaboradores que “d’este numero em deante toda a correspondencia deve ser dirigida a João Romano Torres, rua Nova de S. Mamede, aos Caldas, 26, 3.º - Lisboa” (p. 201). Para João Romano Torres, que acabara de adquirir a publicação, trata-se de um acto refundacional, que significará para o editor o início de um percurso editorial através do qual se dará origem a uma editora cuja actividade chegará ao último quartel do século seguinte, estabelecendo um catálogo que a tornou reconhecível e reconhecida no espaço do livro em Portugal. Desta editora se falará aqui apenas de um período situado entre o ano de 1885 e o fim da primeira década de 1900. ABSTRACT - On the 29th October 1885, the first issue of O Recreio, Publicação Semanal, Litteraria e Charadística (proposed English translation: The Playground, Weekly, Literary and Charades Publication) was published, created and headed by Ignacio Moreira. On the 26th issue, issued on the 9th August 1886, in the front page, under the headline “Dispatch”, it is imparted with readers and collaborators that “from this issue forward, all correspondence should be addressed to João Romano Torres, Nova de S. Mamede street, at Caldas, 26, 3rd - Lisbon” (p. 201). For João Romano Torres, who had just acquired the publication, this was a re-foundational act, which will represent for this publisher the beginning of a publishing trajectory through which a new publishing house will emerge, whose activity will reach the final quarter of the next century, establishing a catalogue which made it recognizable and recognized in the book field in Portugal. This publishing house will be addressed here regarding only the period spanning from the year 1885 to the end of the first decade of the 1900s.
  • Inconstância, ausência e paradoxo na política para o livro no Estado Novo português
    Publication . Medeiros, Nuno
    Neste artigo procura-se entender a dúplice forma como o Estado Novo em Portugal lidou com o livro como objecto de acção política. As tentativas de enquadrar o livro como alvo de promoção no sentido de um apoio efectivo e da adopção de medidas correctivas das disfunções do mercado, próprias de uma matriz contemporânea e aberta de sistemas políticos e sociais desenvolvidos, nunca terão verdadeiramente existido durante o período autocrático. Com efeito, desde o seu começo até meados da década de 1950 o regime hesitou entre fórmulas – isoladas – de suporte à edição e à leitura, que não pôde ou não quis consolidar, e opções tendentes a conseguir arregimentar agentes do livro (sobretudo editores e autores) à nunca concretizada literatura oficial do Estado Novo, e que obedecesse aos seus pressupostos. O caminho trilhado parece ter sido, a partir de dado momento, essencialmente o da repressão ao livro, pautando o poder a sua actuação pela ausência de propostas de fomento do mercado editorial e livreiro como as que se verificaram noutros contextos nacionais, inclusive ditatoriais.
  • Influência e contrainfluência na inversão do poder tipográfico entre Portugal e o Brasil: narrativa e atividade nos editores portugueses
    Publication . Medeiros, Nuno
    Tempo fértil em alterações que transformaram a face do universo editorial em Portugal e no Brasil, os anos que decorrem entre a última metade da década de 1930 e o fim da década de 1960 constituem o período em que se assiste a uma inversão nos processos de influência tipográfica entre os dois países, com Portugal a passar de exportador para importador de livros no seu comércio com o Brasil. Este artigo pretende analisar o ponto de vista da edição portuguesa nos modos variados como os seus agentes foram representando o Brasil enquanto centro produtor e disseminador do livro, e como as mudanças suscitadas foram ocorrendo num contexto de oscilação – e tensão – entre discursos amarrados a uma época de ouro (ou imaginada como tal) que ficava relutantemente para trás e práticas de colaboração efectiva entre os universos tipográficos português e brasileiro, essencialmente suportadas na actuação de editores individuais. ABSTRACT - There was a time of many alterations that changed the face of the publishing world in Portugal and Brazil during the years spanning from the second half of the 1930’s to the end of the 1960’s. This was a period in which one could observe an inversion of publishing influences between the two countries, with Portugal shifting its role and becoming a net book importer in its trade with Brazil. This article intends to analyze the Portuguese publishing world’s point of view as their agents in different ways changed their attitudes toward Brazil as a centre of book production and diffusion. The text also sets out to understand how these transformations occurred in a context of oscillation – and tension – among discourses tied to a golden age (or imagined as such) that was reluctantly left behind, and practices of effective collaboration between the Portuguese and Brazilian publishing worlds – resulting fundamentally from the actions of individual publishers.
  • Print culture in the making: the Portuguese case of Romano Torres publishing house
    Publication . Medeiros, Nuno
    This article sets out to understand the ways a publishing house can be an actor intervening in the agency of authors, guiding and even determining the performance of the writers, translators, and adapters featured in the catalog. The empirical angle is supported by an in-depth case study of the Romano Torres publishing house, a Lisbon publisher which worked in the realm of the Portuguese language between 1885 and 1886, and 1990. To examine publishing in the case analyzed here is to understand how an intricate system of relations and their context shapes the actions and dispositions of agents. This reveals how the autonomy of each field in cultural production and circulation can only be explained by its permeability. This article is interested in capturing the ways a mass-consumption publishing house ends up shaping a catalog and its forms of circulation by being involved simultaneously in the transformation of the book market and ways of getting books to their readers.