ESCS - Comunicações
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Browsing ESCS - Comunicações by Sustainable Development Goals (SDG) "04:Educação de Qualidade"
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- Documentário: uma janela para a reflexão sobre práticas pedagógicasPublication . Souza, Joana; Cardoso, Adriana; Pontes, Joana; Ribeiro João; Pereira Rodrigues, Ricardo André; Pereira, SusanaO documentário, enquanto género audiovisual ancorado na realidade, pode ser perspetivado como um recurso relevante para a partilha de práticas pedagógicas e, simultaneamente, para a preservação de memória das instituições, nomeadamente daquelas cuja missão contempla a formação de professores. A possibilidade de refletir sobre práticas pedagógicas a partir de testemunhos de docentes concretos, que desenvolvem a sua ação em contextos histórico-sociais específicos, pode oferecer um contributo singular para a compreensão de fenómenos educativos. Partindo da identificação de duas lacunas (a falta de preparação dos futuros professores na área da iniciação à leitura e à escrita, cf. Leite et al., 2022; a falta de recursos audiovisuais que apresentem caminhos, testemunhos reais de docentes sobre as práticas implementadas neste domínio), uma equipa de docentes da Escola Superior de Educação e da Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa lançou-se no desafio de criar um documentário que, partindo da experiência prática e pessoal de uma professora, mostra caminhos possíveis para a mobilização do saber e do saber fazer no processo de ensino da leitura e da escrita. A escolha do documentário enquanto formato a adotar prende-se com dois fatores, por um lado, a representação de histórias reais a partir de uma visão mais pessoal dotam esta abordagem de uma carga emocional que pode contribuir para uma melhor compreensão do mundo, abrindo-se assim caminho na didática (Brun, 2022); e, por outro lado, a ideia de que refletir a partir da prática artística pode, através da produção experimental e performativa, produzir conhecimento (Barrett, 2010). Para o desenvolvimento do documentário, partiu-se da definição de documentário enquanto obra em que o autor “tem a possibilidade – à semelhança dos filmes de estúdio (de ficção) – de exercer um trabalho criativo, ainda que ligado a um tom didáctico”(Penafria, 2004, p. 187) em torno de uma realidade, através da construção de uma estrutura dramática e narrativa composta por personagens, espaço da ação, tempo da ação e conflito (Penafria, 2001). A metodologia adotada foi a proposta por Rabiger (2004), que se organiza em três etapas distintas: pré-produção; produção; pós-produção. Nesta comunicação, pretende-se apresentar os princípios audiovisuais que orientaram o desenvolvimento do documentário e a sua relação com a intenção/dimensão reflexiva no ensino da leitura e da escrita. Para o efeito, será explicitada a abordagem adotada, de acordo com o sistema de classificação proposto por Nichols (2001), e serão apresentadas as opções tomadas (i) na escolha das personagens, (ii) na construção da estrutura narrativa (dimensão espaço-tempo da ação), (iii) na organização de cenas e sequências narrativas, (ii) na escolha dos dispositivos visuais adotados, (iv) na conceção da banda sonora e (v) no formato de distribuição escolhido. Este é um projeto que, a partir da articulação entre diferentes áreas do conhecimento (comunicação, arte e educação), procura promover uma reflexão sobre as práticas pedagógicas numa determinada área científica, sendo como tal passível de ser explorado noutros contextos e em diferentes áreas do saber.
- Razão tolerante: algumas notas a partir do ensino do módulo de protocoloPublication . Eiró-Gomes, MafaldaNo nosso quotidiano, e também quando propomos as matérias a serem lecionadas, deixamo-nos muitas vezes levar por questões de economia discursiva com generalizações nem sempre bem conseguidas. Neste artigo usaremos a definição estrita e clássica de “protocolo” como o conjunto de leis, normas e regras oficiais. O protocolo como o que rege as relações institucionais e que, por definição, é da ordem do normativo e do legal. Nas aulas falamos de todo um conjunto de “produtos” do protocolo como a ordem de precedências, as fórmulas de tratamento, a colocação de lugares ou os planos de mesa, o código de vestuário, o tapete vermelho, os hinos e as bandeiras, pavilhões, escudos, ou outros símbolos, bem como sobre as honras militares. Distinguimo-lo do que se deixa subsumir sob a noção de “etiqueta”, isto é, as regras de cortesia em eventos de entidades públicas ou privadas e claro, muito relevante também nos cursos de comunicação, as regras em contextos laborais. A etiqueta é o formalismo das relações entre particulares, os comportamentos a ter em sociedade interditando alguns comportamentos, privilegiando outros. Se é mais ou menos claro o que é do domínio da norma, o que é do domínio do protocolo, aquele conjunto de regras que quando não aceites levam a que os meios de comunicação social falem em “saltar” ou “romper” o protocolo e que podem levar a crises institucionais, o mesmo já não se pode dizer do conceito de “etiqueta”. Quando falamos em etiqueta parece que estamos em conflito com tudo aquilo em que a sociedade atual acredita, e que para usar uma expressão cara a Lipovetsky (2021), poderíamos designar como o “mito da autenticidade”. Em Le sacre de l’authenticité (2021) o autor faz eco de muitas das críticas, contrariedades e recusas da actual geração em aceitar os temas acima especificados em nome e, mais uma vez, nas palavras de Lipovetsky, da fidelidade a si próprios. Foi precisamente a partir destas questões mas também de diversas leituras que não só traçam uma memória histórica sobre as questões de “protocolo” e “etiqueta” (Seguin, 1992) como nos levam a repensar a forma de ensinar estas questões - quando mantemos como princípio e objetivo da missão da universidade o desenvolvimento do pensamento crítico e a formação dos nossos estudantes como cidadãos - que se redigiram as notas a ser apresentadas. A reflexão centrar-se-á na noção de tolerância e muito em especial sobre o conceito de “racionalidade tolerante” como uma forma de repensar o que é fundamental discutir quando pensamos em temas como os do “protocolo” e da “etiqueta". Em Um fio de nada: ensaio sobre a tolerância, Diogo Pires Aurélio (1997, 2010) afirma a importância deste conceito, dizendo mesmo que em nada perdeu actualidade, isto em 2010 aquando da edição no Brasil da obra, 13 anos depois do seu lançamento em Portugal. Com a mesma propriedade diremos nós, hoje, que a pertinência deste conceito precisa ser partilhada nas nossas aulas e em especial nos contextos de leccionação de formas de civilidade e urbanidade em cursos, e em universidades, onde o cruzamento de indivíduos e comunidades se tornaram correntes. Mas também como uma forma de reforçar o papel da universidade na formação de cidadãos e na prossecução de caminhos que permitam o reconhecimento do outro. De acordo com o autor “(...)aquilo a que poderíamos chamar a razão tolerante fundamentar-se-á (...) no reconhecimento do outro como pura alteridade.” (Aurélio, 2010, 143).