ESCS - Capítulos ou partes de livros
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Browsing ESCS - Capítulos ou partes de livros by Subject "Ação comunicacional"
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- Algumas considerações sobre a experiência da mediação na esfera pública culturalPublication . Centeno, Maria JoãoA presente comunicação tem por objetivo indagar sobre a natureza da relação entre as organizações e os seus públicos no seio da esfera pública cultural. Numa época caracterizada pela fragmentação das esferas da experiência, interessa-nos perceber como no seu seio se produzem e impõem ações e discursos, de que forma se confrontam os interesses dos atores coletivos versus os interesses dos agentes individuais. A esfera pública cultural contemporânea, designação que pressupõe a cultura como um fator de desenvolvimento, teve origem na alienação popular da vida pública e na instauração do regime de consumismo cultural, o que vai de encontro à colonização do “Mundo da Vida” (Lebenswelt) pelo sistema de que fala Habermas. “A totalidade destes distúrbios começa por ter origem na indiferenciação que se foi estabelecendo entre os processos de reprodução simbólica e de reprodução material do Mundo da Vida: o quadro de ação sistémica que rege este último foi progressivamente estendendo a sua influência a ponto de se pretender substituir aos mecanismos próprios da reprodução simbólica (a linguagem e a comunicação).” (Esteves,1989:71) A reprodução simbólica do Mundo da Vida (o processo de integração social) acontece de forma diferente do processo de produção e reprodução de bens e serviços, característico dos sistemas funcionais (o processo de integração sistémica), na medida em que a realização do processo de reprodução simbólica é assegurada pela ação intercompreensiva. Nas sociedades ditas tradicionais, o acordo que resulta do consenso estava garantido à partida dentro de um determinado contexto normativo. A viragem para a modernidade fica então marcada por um aumento do nível de exigências que se colocam à comunicação; a ação comunicacional pressupõe um acordo intersubjetivo, em que o consenso é obtido, não à partida, mas através do uso argumentativo da própria linguagem; a ação comunicacional resulta do confronto argumentativo num determinado espaço de enunciação. A partilha com os nossos interlocutores de um Mundo da Vida comum, ou seja, a partilha de um conjunto de valores e crenças, traduzidos na linguagem e nas ações, faz com que, na comunicação simbólica, os critérios de validade dos atos de fala sejam tidos por verdadeiros, adequados a um contexto aceite por falante e ouvinte. Que implicações podemos encontrar de todo este processo na esfera pública cultural? Num momento em que a família deixou de cumprir a sua função de catalisadora da discussão literária, o consumo de massa deixa de objetivar um público entendido e consolida-se na aquisição de bens, ou seja, na simples adesão. O sistema parece dilacerar o Mundo da Vida. Todo o ciclo cultural começa a obedecer a uma lógica de lucro determinada pela pressão crescente da necessidade de expansão do consumo e a consequência inevitável seria a degradação da qualidade dos bens culturais. Mas é precisamente a tensão entre as vertentes simbólica e administrativa que atravessam o campo cultural um dos fatores que permite a Habermas distanciar-se dos teóricos de Frankfurt que profetizavam a homogeneização cultural. A essência humana conserva sempre, como diria Lukács, um elemento incorruptível que a preserva de uma total transformação mercantil. As racionalidades técnico-instrumental e estratégica do capital e do Estado tentaram colonizar o Mundo da Vida, o espaço da “racionalidade comunicacional”, do mútuo respeito e da compreensão, mas a experiência comunicacional dialógica tem tendência a normalizar este desequilíbrio. Então, não parece extraordinário que os indivíduos se centralizem nos problemas do dia-a-dia e que a satisfação pessoal seja mais pronunciada do que o envolvimento ativo nos processos sistémicos da governação e dos negócios; aliás a questão que se coloca é porque seria suposto as pessoas tratarem com a mesma paixão que devotam à sua vida pessoal e às relações com os outros os assuntos da governação, onde têm um poder reduzido de influenciar o que acontece! O envolvimento popular na esfera pública, quando acontece, assume um modo predominantemente afetivo, relacionado com a ligação direta ao Mundo da Vida, em vez de assumir um modo exclusivamente cognitivo, normalmente associado à vivência de um sistema remoto. A consideração de uma racionalidade comunicacional, de um uso intercompreensivo da linguagem, posicionada no epicentro das relações que os indivíduos estabelecem entre si, não pode deixar de atender aos aspetos afetivos da relação (que reportam ao mundo interior dos sujeitos ou mundo subjetivo), o que em termos de análise da esfera pública cultural significaria uma conceção limitada, na medida em que contornaria os prazeres de fruição dos objetos culturais (McGuigan,2004b). Podemos então definir a esfera pública cultural como um espaço em que se articulam organizações, políticas e públicos de acordo com modos de comunicação afetiva – estética e emocional e não só cognitiva. A comunicação afetiva ajuda os indivíduos a pensar reflexivamente sobre as situações que compõem o seu Mundo da Vida e de como experienciar os sistemas que parecem estar além do controlo específico de alguém. A esfera pública cultural, perspetivada como resultado e instrumento de transformação social, proporciona matéria para o pensamento e para as disputas argumentativas, que terão necessariamente alguma consequência em termos da edificação da identidade social. Esta identidade constitui-se na apresentação e discussão pública de ideias, o que vem reforçar o conceito fundador de espaço público, no sentido de espaço em que os indivíduos “publicitam” as suas ideias, o espaço do confronto argumentativo.
- As políticas e práticas culturais no seio da Rede Nacional de Teatros e CineteatrosPublication . Centeno, Maria JoãoPartindo de uma teoria da comunicação que propõe a existência de indivíduos capazes de discurso e acção e que coordenam, na e pela linguagem, as suas acções não de forma isolada, mas por expectativas de comportamento intersubjectivamente válidas, o presente trabalho examina as opções programáticas das organizações que compõem a Rede Nacional de Teatros e Cineteatros para averiguar se impulsionam movimentos que injectam, na vida política, valores que dizem respeito às relações dos indivíduos com o meio e entre si e assim contribuem para ultrapassar a reificação das práticas comunicacionais que tem ameaçado o Mundo da Vida, o espaço do mútuo respeito e da compreensão.A pesquisa desenvolvida mostra como alguns equipamentos, ao dinamizar espaços privilegiados de debate e confronto argumentativo de ideias, promovem uma relação dialógica, baseada em acções comunicacionais, na coordenação dos planos de acção das partes envolvidas e assim cumprindo o objectivo de uma vinculação fluida, construída espacial e discursivamente, com a comunidade local.