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Abstract(s)
A esfera pública cultural pode ser definida como o espaço simbólico em que se
articulam organizações, políticas e públicos de acordo com modos de comunicação afetiva –
estética e emocional, e não só cognitiva, tendo em conta que a comunicação afetiva ajuda os
indivíduos a pensar reflexivamente sobre as situações que compõem o seu Mundo da Vida
(Husserl, 1936). O envolvimento popular na esfera pública cultural, quando acontece, assume
um modo predominantemente afetivo (prazeres de fruição dos objetos culturais), relacionado
com a ligação direta ao Mundo da Vida (através da troca de perspetivas que repousam em
apelos à evidência e a crenças partilhadas), em vez de assumir um modo exclusivamente
cognitivo, normalmente associado à vivência de um sistema remoto (McGuigan, 2005). A esfera pública cultural teima em recuperar as tradicionais funções críticas e emancipadoras do espaço público, incluindo hoje uma estética mediatizada quotidianamente. Se, no lugar
das organizações, perspetivarmos um museu virtual, a urgência de o organizar
participativamente é vital: como promotor de redes de relações cuja atividade cooperativa se
pretende recorrente (noção de Art World de Becker, 1982) consolida-se a rutura da relação
organização/cliente de carácter instrumental e dirigida de acordo com os interesses apenas
de uma das partes. Como ‘contra-instituição’, resíduo de Mundos da Vida, ele pode ter um
papel ativo na articulação entre o Mundo da Vida e os sistemas político e económico, ao
garantir espaços livres para experiências comunicacionais dialógicas que concretizam a
ideia de espaço simbólico partilhado. O presente artigo propõe-se problematizar os públicos
que dão vida aos produtos culturais (uma perspetiva da ação, em que se pretende analisar a
incidência da atividade cultural na sociedade e não encarar o mundo cultural como o
resultado da vida económica e política). Numa cultura de participação (Jenkins, 2006), os
públicos são aqueles que têm o potencial de influenciar, através das suas próprias ações e
comunicações (numa dinâmica down-top), e ser influenciados pela ação das organizações
(conceção de públicos centrada na linguagem) e não serem entendidos exclusivamente
como entidades reativas (numa relação top-down). Se os públicos se limitassem a reagir às
atividades das organizações, não seria expectável a simetria, o balanço na participação. A
ação/comunicação de um museu digital contempla: difundir obras; redimensionar o sistema
de referências do outro, nomeadamente promovendo o confronto argumentativo suscitado
pelas várias dimensões da obra; incentivar uma prática dialógica que enriquece a capacidade
de escolha. Numa expressão, proporcionar experiências comunicacionais dialógicas
(Habermas, 1981). Não querendo simplificar, o que está em causa é a organização não se
limitar a apresentar manifestações culturais, mas promover a ação e a disputa
argumentativa, ou seja, aumentar a esfera pública no sentido intersubjetivo. A ligação hoje é
possível através de media comuns, media que se tornam parte das nossas vidas e que
dependem de todos para existir: “Bem-vindos à cultura da convergência, onde os velhos e os
novos media colidem, (…) onde o poder do produtor e o do consumidor interagem de formas
imprevisíveis. (…) Os consumidores serão mais poderosos na cultura de convergência - mas
só se reconhecerem e usarem esse poder quer como consumidores, quer como cidadãos,
como participantes plenos na nossa cultura” (Jenkins, 2006: 270); é esta a visão de museu
digital que nos propomos apresentar.
Description
Keywords
Plataformas museológicas digitais Cultura de participação Esfera pública cultural Museu virtual Museu digital
Citation
CENTENO, Maria João; PINA, Helena - As plataformas museológicas digitais e cultura de participação. In: Congresso SOPCOM, 10º: Ciências da comunicação: vinte anos de investigação em Portugal, (livro de resumos, pp. 50-51) Viseu, (Instituto Politécnico), 2017 (27 a 29 novembro)
Publisher
SOPCOM / Instituto Politécnico de Viseu