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- O canto do cisne: o feitiço da mercadoria na comunicação de ciência e tecnologiaPublication . Castro, Irina; Subtil, Filipa Mónica de Brito GonçalvesA associação da ciência ao crescimento económico é parte de projetos políticos que a conduzem a um estado de subsunção ao setor privado e à inovação tecnológica orientada para o mercado. Uma das consequências de tal situação é o “hype”, ou seja, a extravagante e exagerada forma como se apresentam os resultados e potencialidades das chamadas “conquistas científicas”, assim como são negligenciados ou mesmo encobertos os riscos e incertezas das tecnologias delas resultantes. Como exemplo, a dependência de empresas privadas que sustêm as publicações de artigos e livros, e com ela os fatores de impacto, impele à hiperbolização das conclusões e do valor dos resultados da investigação realizada. Paralelamente, a pressão para assegurar financiamentos e acesso a recursos para a investigação impele ao hype nos média. Na sua relação com a sociedade, a política e os financiadores, o exagero caracteriza as promessas da ciência sobre o futuro, mediatiza a ciência ‘já feita’, mas verdadeiramente pouco comunica sobre os processos, barreiras, constrangimentos, dificuldades e contradições. A comunicação de ciência não-substantiva alimenta um imaginário que pode ter consequências negativas quando as suas contradições se revelam. Algumas destas consequências são inclusivamente representadas pelo crescente ceticismo face à ciência ou por correntes anti-ciência. Em Portugal o hype na comunicação de ciência tem estado ausente dos debates, mas mesmo internacionalmente são escassos os trabalhos que articulam a comunicação na sua relação com a ‘mercantilização’ ou inclusivamente a propaganda científica (e tecnológica). Nesta comunicação, examinaremos a hipótese de que o exagero resulta do uso coercivo da comunicação como fator para a competição e como determinante do sucesso e reconhecimento da ciência. Este exame irá levar-nos a discutir conceitos como propaganda, publicidade e marketing de ciência. Falar das origens materiais do exagero implica ainda explicar o “fetichismo da mercadoria” e o “fetichismo tecnológico” (ou ainda o “sublime tecnológico”), por outras palavras, a origem material que permite à comunicação ocultar, a quem a exerce, as reais condições de trabalho e exploração a que estão sujeitos, e a que sujeitam o mundo.