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- Os suportes hipermedia e o trabalho antropológico: podem as imagens valer tanto como as palavras?Publication . Cavaleiro Rodrigues, JoséDesde os primórdios da disciplina, os antropólogos sempre mostraram uma apetência particular pela utilização da imagem. Mesmo quando o desenvolvimento das tecnologias ainda não permitia uma exploração plena dos meios, já a curiosidade e a vontade experimental faziam com que muitos se fizessem acompanhar dos equipamentos nas expedições ao terreno. Mais de um século depois desta ligação ter começado, a antropologia está longe de assegurar a definição clara de uma função e de um lugar para a imagem. A contradição entre simples aplicações documentais e ilustrativas e os projectos para uma disciplina capaz de produzir um ‘conhecimento sensorial’ dos objectos; a incompatibilidade entre metodologias objectivas e subjectivas; a incoerência e a desarticulação do campo subdisciplinar, são algumas das manifestações da ambiguidade do estatuto conferido pela antropologia às suas expressões visuais. Depois das revisões pós-modernas e pós-coloniais terem abalado as certezas logocêntricas, criaram-se condições para resolver equívocos e desencontros e repensar o enquadramento das imagens na investigação e no conjunto das práticas antropológicas. Na última década, o aperfeiçoamento do hipermédia veio disponibilizar a infra-estrutura tecnológica que faltava para se começar a trabalhar em novas formas de proceder à integração de imagens, palavras e sons nos conteúdos da antropologia. Perante as oportunidades oferecidas pela digitalização e alguns dos resultados promissores já alcançados, impõe-se uma reflexão sobre a utilização do hipermédia que exponha, não só as potencialidades e os ganhos representados por estes suportes, mas também alguns dos problemas conceptuais e dificuldades práticas por eles causados. É sobre estes meios e as mudanças que no futuro trarão para a forma de fazer antropologia que nos debruçaremos.
- A diabolização dos territórios da pobreza: estratégias de distinção e enfrentamento identitário da estigmatização residencialPublication . Cavaleiro Rodrigues, JoséA benevolência das políticas públicas com que nos últimos anos se procurou resolver as carências habitacionais mais extremas e, simultaneamente, promover a condição social das camadas pobres da população urbana, tem sido confrontada pelo menos com um efeito adverso e largamente imprevisto. Contra a expectativa dos próprios realojados que esperavam que as novas habitações, conformes com padrões de urbanidade socialmente aceitáveis, os libertassem da desvalorização simbólica do habitat degradado, muitos bairros sociais estão-se a transformar em lugares de condenação social e de exclusão, cada vez mais associados à violência e ao crime. Assinalados pelas designações burocráticas das agências oficiais como “problemáticos”, “críticos” ou “sensíveis”; cercados pelas operações de repressão policial, que os classificam em rankings segundo a sua perigosidade; expostos pelos media, que dramatizam a importância de acontecimentos muitas vezes excecionais, estes bairros passam por processos descontrolados e dificilmente estancáveis de estigmatização territorial. Para a maioria dos moradores, que individualmente já têm que lidar com a anomalia de, numa sociedade de abundância, serem incapazes de suprir as suas necessidades materiais, junta-se agora o reflexo estatutário destas imputações externas e das formas coletivas de identificação que a todos associam negativamente. Pegando no trabalho de campo realizado em dois bairros de realojamento da AML e nos dados mais extensivos resultantes do acompanhamento de seis processos PER, pretendo, em primeiro lugar, analisar as condições contemporâneas em que ocorrem os processos de estigmatização dos novos espaços, para, de seguida, me debruçar sobre os efeitos internos aos bairros, no distanciamento e na diferenciação que se instalam nas relações entre os moradores. O significado que estes processos e comportamentos têm para os projetos e as identidades dos conjuntos sociais estão na primeira linha de análise, mas dá-se particular relevo às estratégias que neste contexto são seguidas por uma franja de moradores empenhados em iniciar ou consolidar percursos de mobilidade social, acompanhados ou não de deslocalização residencial.