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Portugal acolheu, nos últimos 14 anos, duas edições do evento Capital Europeia da Cultura, Porto 2001 e Guimarães 2012. Apesar do financiamento europeu, são os responsáveis locais as figuras de maior destaque na concretização destes eventos, na medida em que têm de assegurar o restante financiamento e, não menos importante, definir o modelo de gestão e consequente implementação e monitorização.
A aposta em eventos desta natureza pretende posicionar as cidades que os acolhem enquanto lugares de inovação em termos de políticas culturais, de produção e inovação artística, de requalificação urbana, ambiental e económica, de formação e criação de novos artistas e novos públicos.
Os responsáveis locais e os programadores enfatizam precisamente a possibilidade que estes eventos representam de regenerar as cidades, no entanto, este processo de regeneração está ausente da cobertura mediática. As duas dimensões comunicativas não coincidem; pelo contrário, divergem. Os responsáveis enfatizam o facto de ao dinamizarem políticas culturais, contribuírem para a transformação urbana, não só no ano em que decorre o evento, mas também nos que se seguem. A cobertura mediática centra-se no presente e tende a oferecer produtos fáceis de consumir.
A imprensa, enquanto construtora social da realidade, tem contribuído para enformar o impacto que estes eventos culturais têm na imagem das cidades, perspetivadas em termos locais, mas sobretudo em termos nacionais, ao estimular o consumo entre os residentes mas, acima de tudo, ao atrair visitantes.
A cobertura que a imprensa realizou a estes grandes eventos, apesar de tidos como “catalisadores dos processos de regeneração das cidades na medida em que misturam estratégias para o turismo com planeamento urbano e podem aumentar a confiança e o orgulho das comunidades locais” (García, 2004: 104), circunscreve-se à promoção das cidades que os acolhem enquanto destinos culturais/turísticos, pouco contribuindo para o empoderamento local.
Esta condição leva-nos a refletir sobre as condições de mediação social da própria relação que as pessoas estabelecem com os media, pessoas que têm de ser, pelo menos, separadas entre os visitantes e os residentes.
Para a circunstância de se tornar visitante é imprescindível a visibilidade que a imprensa atribui a determinada matéria informativa e a capacidade que daí advém de fixar o interesse. Por outro lado, os atributos sociais e psicológicos dos residentes contribuem para que os poderosos efeitos dos media saiam esbatidos, o grau de experiência e implicação com o assunto diminui os efeitos da informação mediática, “embora cada vez mais os media nos nossos dias se apresentem como fontes primárias de experiência social, ainda assim parece que lhes continua a caber um papel secundário, pelo menos em termos cognitivos, sempre que os mesmos não se encontram sozinhos no terreno – quando não são a única fonte de experiência e, mais em especial, quando se encontram em concorrência com fontes de experiência primária diretas (quaisquer formas de contacto sensorial mais imediato estabelecido com os diversos elementos do mundo envolvente)” (Esteves, 2012: 122).
A imprensa, ao demitir-se de refletir sobre o papel que estes eventos podem ter em desenvolver nas cidades práticas culturais continuadas e ao reduzir-se à promoção ocasional de roteiros turísticos de práticas de lazer, teima em cumprir objetivos de satisfação imediata e não de promoção cultural. Ou, se quisermos, teima em envolver, sabendo que envolver implica o esforço de uma parte ativa em levar a outra passiva a agir, sustentando um ponto de vista soberano que não é a forma de cativar, pelo menos, os residentes.
A esses, os responsáveis locais incitaram à participação, atentos ao facto de que participar significa implicar as duas partes e uma possível sujeição ao confronto, à tentativa e erro e ao imprevisto. E foi precisamente a este desafio que as populações do Porto e Guimarães aderiram e que lhes permitiu a apropriação das práticas culturais propostas.
Este capítulo pretende refletir e problematizar o papel dos media na promoção de grandes eventos como as Capitais Europeias da Cultura e respetivo envolvimento/participação dos visitantes/residentes.
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Keywords
Capital Europeia da Cultura (Porto, 2001) Capital Europeia da Cultura (Guimarães, 2012) Eventos culturais Políticas culturais Cobertura jornalística Cobertura mediática
Citation
CENTENO, Maria João - As Capitais Europeias da Cultura entre o envolvimento e a participação: o papel dos media. In: BAPTISTA, Carla (coord.) - A cultura na primeira página: uma década de jornalismo cultural na imprensa em Portugal. Lisboa: Escritório Editora, 2017. ISBN 978-989-8507-52-5. pp. 109-127
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Escritório Editora