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  • O caso de D. Beatriz Ferreira, cabeleireira, salazarista e repórter fotográfica d’ O Século e do semanário O Século Ilustrado
    Publication . Serra, Filomena; Subtil, Filipa Mónica de Brito Gonçalves
    O trabalho das mulheres repórteres fotográficas portuguesas de inícios do século XX, ou, mais tarde, o das fotojornalistas que ousaram fazer dessas atividades o seu métier é ainda invisível. Ao contrário das mulheres-jornalistas cuja presença nos jornais foi tímida, mas cujo acesso à profissão, nos anos 80, rejuvenesceu um ofício até aí predominantemente masculino e pouco qualificado, a integração das mulheres foto-repórteres foi mais lenta. Apesar da inexistência de dados fidedignos nacionais, as investigações internacionais sugerem que a sua presença é ainda escassa. Um inquérito ao prémio da World Press Photo (2015) diz-nos que 85% dos concorrentes eram homens (Hadland, Campbell et al, 2015). O objectivo deste estudo é, pois, discutir a invisibilidade e a reconfiguração dessa profissão, tardiamente reconhecida, através da desocultação do caso de Beatriz Ferreira (1916-1996), foto-repórter d’O Século e do Século Ilustrado, entre 1947 e 1977, onde também foi responsável pelos serviços fotográficos. Beatriz Ferreira, filha de um pescador de Sesimbra e de uma funcionária municipal, teve uma infância de pobreza e trabalho. Aos dezasseis anos, após um casamento infeliz, chegou a Lisboa e fez-se cabeleireira. Entretanto, conheceu o seu futuro marido Ismael Ferreira, repórter fotográfico e chefe de serviços n’ O Século até à data da sua morte em 1960. Ao acompanhar o trabalho do marido, apaixonou-se pela fotografia, aprendendo as técnicas fotográficas. Conhecida por D. Beatriz Ferreira, vem a trabalhar naquele jornal e no Século Ilustrado, entre 1947 e 1977. Em 1949, entra oficialmente para a redacção do jornal, tornando-se sócia efectiva do Sindicato dos Jornalistas, em 1956. Seria ainda colaboradora da revista Modas e Bordados. São dela inúmeras foto-reportagens dedicadas a visitas de chefes de governo estrangeiros e viagens presidenciais às colónias e ao Brasil; da visita da rainha de Inglaterra a Portugal, em 1957; uma reportagem sobre Humberto Delgado e a Maria Callas, em 1958, e muitas outras. Realizou também fotografias mais intimistas, de crianças, amigos e conhecidos da Cova do Vapor, na margem sul na Foz do Tejo, onde possuía uma casa. Com a morte do marido em 1960, Salazar, segundo afirmou, ter-lhe-ia oferecido protecção enquanto viúva, facto que nunca esqueceu. Faria também amizade com a família do Presidente Américo Tomás, do qual fez inúmeras foto-reportagens. Talvez por esses factos, após o 25 de Abril de 1974, viria a sofrer um processo atribulado, acusada por um dos seus colegas de profissão de ser uma informadora da PIDE/DGS e da Legião Portuguesa, o que nunca se veio a provar. Como metodologia de trabalho investigámos vários arquivos (Sindicato dos Jornalistas Portugueses, Hemeroteca Municipal de Lisboa e Arquivo Fotográfico de Lisboa)para conhecer a sua biografia. Fizémos o levantamento das reportagens fotográficas mais significativas d’O Século Ilustrado, os temas abordados e uma análise semiótica das imagens. Além da discussão dos aspectos ligados à invisibilidade da profissão e do seu contexto histórico-social e internacional, discutiremos os seus pontos de vista e se existirá um olhar específico feminino e humanista nos temas abordados.