Browsing by Author "Silva, Bruna Filipa Ferreira da"
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- Nutrição entérica exclusiva na indução da remissão da doença de Crohn em idade pediátrica: estudo observacionalPublication . Silva, Bruna Filipa Ferreira da; Lopes, Ana IsabelIntrodução: Em idade pediátrica, o diagnóstico da Doença de Crohn (DC) pode ser um desafio, sendo a desnutrição e o atraso no crescimento complicações major associadas. Por esse motivo, a intervenção nutricional deverá ser considerada parte integrante do tratamento da DC e a restauração do estado nutricional como objetivo integrante do plano de intervenção terapêutica. A Nutrição Entérica Exclusiva (NEE) constitui atualmente a primeira linha de tratamento para a indução da remissão da DC luminal, ligeira a moderada, em idade pediátrica. Apresenta um excelente perfil de custo-benefício, com uma taxa de remissão, para os grupos a que se destina, entre 70 a 85% e benefícios adicionais no que respeita à cicatrização da mucosa, à restauração da densidade mineral óssea e à melhoria do crescimento e do estado nutricional, estando também associada à melhoria da qualidade de vida. Objetivos: O principal objetivo deste estudo é avaliar preliminarmente a contribuição da NEE na indução da remissão da apresentação inaugural da DC ligeira a moderada em crianças e adolescentes. Em simultâneo, pretende-se, ainda, caracterizar a NEE no que respeita à via de administração, composição e eventuais efeitos adversos e avaliar o impacto desta modalidade de intervenção terapêutica no estado clínico e nutricional dos doentes ao longo de quatro momentos específicos: ao diagnóstico, 2 semanas após o diagnóstico, no fim da terapêutica com NEE e 1 ano após o seguimento. De forma secundária é pretendido comparar o impacto da NEE com as modalidades terapêuticas alternativas utilizadas quando esta não foi finalizada no tempo preconizado, por ausência de adesão ou de resposta. Metodologia: Estudo observacional e retrospetivo, no qual foram recolhidos dados de 21 crianças e adolescentes com diagnóstico inaugural de DC, admitidos consecutivamente na Unidade de Gastroenterologia Pediátrica no Hospital de Santa Maria (HSM), entre Janeiro de 2014 e Junho de 2019. Foram incluídos todos os doentes tratados com NEE como terapêutica de primeira linha, não só com doença ligeira a moderada, mas também com doença grave. Nos quatro momentos foram avaliadas a evolução clínica e nutricional dos doentes, através de dados como a altura, o peso e o índice de massa corporal (IMC), e respetivos z-scores e os parâmetros laboratoriais (hemoglobina, calprotectina fecal, Proteína C Reativa - PCR e Velocidade de Sedimentação Eritrocitária - VS). Ao fim de 1 ano após a intervenção com NEE, foi também observada a ocorrência de recaídas, a duração da remissão e a necessidade de terapêuticas complementares. Resultados: Dos 21 doentes que iniciaram NEE, 2 não aderiram à terapêutica e foram excluídos, resultando uma amostra final de 19 doentes, com uma mediana de 14,2 anos (8,6- 17,9), sendo 52,6% do género masculino. A localização ileocólica foi a mais comum (47,4%) e o comportamento inflamatório destacou-se dos restantes, estando presente em 78,9% dos doentes. A maioria (52,6%) apresentou doença ligeira ao diagnóstico. Nenhum doente apresentou atraso de crescimento. A mediana de Z-score do IMC ao diagnóstico foi de -0,74 SDS (-3,18-0,88), verificando-se a presença de desnutrição em 21% dos doentes. O tempo médio desde os primeiros sintomas até ao diagnóstico foi de 154,8 ± 127,9 dias. Todos os pacientes receberam a NEE por via oral. A ingestão energética média foi de 46 ± 11 Kcal/Kg, o que correspondeu em média a, aproximadamente, 88,3% das necessidades energéticas diárias calculadas. No que respeita à ingestão de macronutrientes, verificou-se uma ingestão média de proteína de 1,7 ± 0,4 g/kg, de hidratos de carbono (HC) de 5,7 ± 1,3 g/kg e de gordura de 1,8 ± 0,4 g/kg. Apesar de a ingestão energética se situar abaixo das recomendações, não houve uma correlação significativa com o Z-score do Índice de Massa Corporal (IMC) no final do tratamento (rs=0,093, p=0,721). Dos 19 doentes que prosseguiram com a NEE, 2 não responderam à terapêutica e iniciaram terapêuticas alternativas após 2 semanas. Os restantes 17 concluíram as 6-8 semanas de tratamento, sendo que 16 (94,1%) alcançaram remissão completa e apenas 1 alcançou remissão parcial, verificando-se, neste momento, uma redução significativa da VS (p=0,001), da PCR (p=0,001) e do Pediatric Crohn’s Disease Activity Index (PCDAI) (p < 0,001) e um aumento significativo do Z-score do IMC (p=0,022). Também se verificou uma redução da calprotectina fecal, porém esta não foi significativa. Ao fim de 1 ano de tratamento, todos os parâmetros tinham melhorado significativamente com a exceção da PCR. No primeiro ano após a NEE 41,2% doentes recaíram. Discussão: Com base nos resultados preliminares do presente estudo, verificou-se que a NEE foi efetiva na indução da remissão da DC em idade pediátrica e na melhoria do estado nutricional comprometido ao diagnóstico, bem como de todos os marcadores inflamatórios, estando em concordância com a evidência pediátrica atual. Salienta-se ainda a excelente tolerância, adesão e ausência de efeitos adversos, reforçando a relevância crescente desta modalidade de intervenção na DC pediátrica.