Browsing by Author "Coelho, Mariana Pinto"
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- Extratos de algas marinhas comestíveis aplicados para a redução do risco de doenças cardiovascularesPublication . Coelho, Mariana Pinto; Pacheco, Rita; Serralheiro, Maria LuísaApesar do progresso na mudança no estilo de vida e terapias farmacológicas para a prevenção de doenças cardiovasculares (DCV), estas permanecem a principal causa de morte em todo o mundo, sendo a hipercolesterolemia um dos fatores de risco. A ingestão de alguns produtos naturais, em combinação com fármacos anti-hiperlípidémicos, tem sido frequentemente reportada como uma estratégia para a terapia da hipercolesterolemia. Assim sendo, tem existido um aumento no interesse em algas como produtos naturais comestíveis, devido aos reportados benefícios e propriedades que os seus compostos bioativos apresentam. Este trabalho teve por base o estudo do potencial terapêutico dos compostos presentes em extratos aquosos de algas marinhas comestíveis, nomeadamente extratos de Eisenia bicyclis, Porphyra spp e Fucus vesiculosus vulgarmente designados Aramé, Nori e Fucus. Iniciou-se o trabalho com a caracterização dos extratos das algas, relativamente à composição em fenóis totais, polissacáridos e proteínas e por HPLC-DAD. O extrato de Aramé foi o que apresentou maior quantidade em fenóis totais 0,063 ± 0,005 mg PGE/ mg massa seca, enquanto que o extrato de Nori apresentou maior quantidade de polissacáridos 0,583 ± 0,004 mg PE/ mg massa seca. Apenas o extrato de Fucus apresentou uma reduzida quantidade de proteínas de 0,0074±0,0004 mg proteína/ mg massa seca. Foi ainda efetuado o fracionamento dos compostos presentes nos extratos, recorrendo a uma extração em fase sólida (SPE) no entanto, por HPLC-DAD verificou-se que nos extratos purificados ocorreu perda de alguns compostos e os extratos aquosos não purificados foram usados para a avaliação do efeito biológico. Relativamente às atividades biológicas associadas aos extratos, o extrato de Aramé foi o que apresentou maior atividade antioxidante 65 ± 3 % e a menor quantidade de extrato com capacidade de reduzir a atividade antioxidante em 50 % (EC50) de 0,174 mg/mL. Verificou-se ainda que, na atividade inibitória da enzima acetilcolinesterase (AChE), o extrato de Nori foi o que permitiu obter uma percentagem de inibição mais elevada 42 ± 2 %, evidenciando uma potencial capacidade terapêutica relativamente a doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer. O extrato de Aramé apresentou maior capacidade de inibição da enzima 3-hidroxi-3-metilglutarilo redutase (HMGR) 79 ± 7 % evidenciando o seu potencial para utilização na redução da hipercolesterolemia. Todos os extratos revelaram ser seguros e não citotóxicos em linhas celulares humanas de células do fígado e intestino, Hep-G2 e Caco-2. E o estudo do metaboloma iv das células Caco-2 e Hep-G2 expostas aos extratos das algas revelou que, em ambas as linhas celulares, os extratos provocaram alterações nos metabolitos associados a várias vias metabólicas, nomeadamente em metabolitos associados ao metabolismo energético da respiração celular, como o ácido sucínico e nos nucleótidos e, também nos fosfolípidos que estão relacionados com efeitos sobre a membrana celular. Em particular, no caso das células Hep-G2 em contacto com o extrato de Nori verificou-se que aumentou a glutationa oxidada (GSSG) enquanto, nas células controlo aparece em maior quantidade a glutationa reduzida (GSH), o que pode estar relacionado com o efeito dos compostos do extrato da alga com um aumento do stress oxidativo nas células Hep-G2. Foi investigado o efeito dos extratos sobre a linha celular Caco-2, após a sua diferenciação, simulando um modelo da barreira gastrointestinal. Verificou-se que todos os extratos apresentaram capacidade de reduzir a permeação do colesterol na barreira entre 20 a 28 %, à semelhança do fármaco ezetimiba prescrito para a terapêutica da hipercolesterolemia. Na presença de ezetimiba, os extratos de Aramé e Fucus aumentaram a redução da permeação do colesterol em 39 ± 4 % e 52 ± 4 %, respetivamente. Verificou-se ainda que alguns compostos dos extratos são capazes de permear a barreira gastrointestinal, o que evidencia o potencial destes alcançarem vários alvos no organismo após a ingestão dos extratos, nomeadamente o fígado. Por fim, de modo a compreender o mecanismo dos extratos sobre a redução da permeação do colesterol, foi analisado o efeito destes sobre as proteínas de membrana associadas ao transporte do colesterol, a proteína de Niemann-pick like 1 (NPC1L1) e o transportador ATP-Binding Cassette G5 (ABCG5) por Western Blotting, quer nas células Caco-2 quer nas células Hep-G2. Os extratos de Aramé e Fucus na linha celular Hep G2 demonstraram ter a capacidade de aumentar a expressão do transportador NPC1L1, relativamente ao controlo. Os extratos de Aramé e Nori, em ambas as linhas celulares, demonstraram aumentar a expressão da proteína ABCG5, o que indica que, tendo em conta que este transportador está associado à excreção do colesterol nas membranas dos hepatócitos e dos enterócitos, o resultado dos extratos sobre a redução da permeação do colesterol poderá ser associado ao efeito sobre este transportador. Em suma, os extratos aquosos das algas marinhas comestíveis Aramé, Nori e Fucus apresentaram diversas atividades biológicas que podem sugerir os efeitos benéficos que lhes são frequentemente atribuídos sobre a saúde em geral e, por isso, são recomendados serem incorporados na alimentação. Em particular, o extrato da alga Nori que demonstrou maior potencial no tratamento de doenças neurodegenerativas, e todos v os extratos que demonstraram ser eficazes no controlo da problemática de hipercolesterolemia e na prevenção de DCV, sendo o extrato da alga Aramé o que evidenciou maiores benefícios e ainda maior atividade antioxidante.